Fonte: Rádio Liberdade FM

 

Especialistas dizem que homens e mulheres traem por motivos diferentes

 

Na novela Império, da Rede Globo, Maria Isis (Marina Ruy Barbosa) é amante do comendador José Alfredo (Alexandre Nero). Mesmo sabendo que ele é casado com Maria Marta (Lilia Cabral) e que não pretende se separar, ela nutre amor e esperança de um dia casar com o comendador e ser a oficial.

Espacialistas ouvidos pela reportagem dão explicações para tentar entender melhor por que algumas mulheres como Maria Isis aceitam ou até se contentam com o papel “da outra”.

“Uma mulher como Isis aceita esse tipo de situação por diversas razões. E uma delas, interessante e recorrente, é a de criar um papel de autovalorização de si mesma. Desta forma, passa a crer que, apesar da situação, é ela quem tem mais importância na vida daquele homem, que ele está com a esposa por motivos de obrigação, mas que quem ele verdadeiramente ama, deseja, admira e confia… é ela. Ou seja, sente-se importante e necessária”, opina a psicóloga clínica pela Universidade de São Paulo (USP) e terapeuta de casais, Triana Portal.

“As mulheres, normalmente, são mais românticas que os homens e sempre esperam encontrar um grande amor. Se acharem que esse príncipe encantado é um homem comprometido ou casado podem até titubear um pouco, mas acabam se apaixonando por ele. E elas mantêm sempre um fundo de esperança, achando que algum dia será a mulher definitiva dele”, opina o mestre em psicologia pela USP, Thiago de Almeida.

Ele que também é especialista em relacionamentos amorosos e autor dos livros “Enigmas do Amor”, “Relacionamentos amorosos: o antes, o durante e o depois” e “Ciúme e suas consequências para os relacionamentos amorosos”.

Para a psicóloga especializada em sexualidade, Juliana Bonetti, há várias razões para mulheres aceitarem viver este tipo de relacionamento. Ela explica, com base numa pesquisa, que há dois grupos de amantes. O primeiro, explica Juliana, é o das mulheres que se envolvem com homens casados, numa relação que dura menos de um ano.

“Elas justificam tal relação afirmando que cederam à atração física e ao desejo sexual pela pessoa, e muitas não sabem nem que o parceiro é comprometido”, avalia a psicóloga.

O outro grupo é o de mulheres que sabem que parceiro é casado e justificam o romance extraconjugal por causa do afeto e amor em jogo. “Outra questão apontada na pesquisa é que a maior porcentagem de mulheres que aceitam ser amantes está concentrada na faixa etária dos 30 anos”, opina Juliana.Amantes, as eternas vilãs!

A culpa no caso de uma relação extraconjugal quase sempre recai na amante, que costuma ser associada à imagem da ‘vilã’, da ‘destruidora de lares’. Mas, afinal, por que esse pensamento ainda se mantém e por que o homem costuma sair ileso de julgamentos? “A traição masculina é historicamente consentida e justificada.

A mulher que trai é vista como adúltera e carrega um estigma. Mas também pode viver uma confusão de sentimentos e culpa por estar sendo infiel e, por vezes, desleal. A sociedade justifica a traição masculina, mas não raro este homem vivencia o sentimento de culpa e o afeto pela esposa e pela amante”, avalia Juliana Bonetti.

Para o mestre em psicologia pela USP, Thiago de Almeida, a sociedade quase sempre perdoa a traição do homem e quase nunca a da mulher. “Sempre considerou-se a amante uma vilã dos relacionamentos. Isso porque, na cabeça das pessoas, muitas vezes, ela sabia que o homem era comprometido e mesmo assim não deixou de ter um relacionamento com ele. Ela aceitou ser a outra e, portanto, está atrapalhando o casamento do homem. Este que foi criado culturalmente para ser o conquistador. Muitas famílias até ensinam os meninos a serem assim”, analisa Thiago.

Para Triana Portal, essa responsabilização da mulher é culpa de nossa cultura machista arraigada.

“Em casos relacionados à infidelidade, o homem sempre se sai bem. Por mais que as pessoas verbalizem desaprovação pela conduta do homem que traiu, no fundo o enxergam como machão, poderoso, conquistador. Já o inverso é cruel: a mulher que trai fica estigmatizada para sempre e raramente as pessoas esquecem-se do fato”, avalia a psicóloga.

A psicanalista Taty Ades avalia que homens e mulheres traem. Mas a questão é que o homem está mais preocupado, desamparado e assustado porque aquela antiga mulher submissa agora atingiu um patamar parecido com o seu.

“Hoje em dia, várias pesquisas relatam que as mulheres traem mais. Mas estamos num momento social e cultural diferente. Os papéis se inverteram, as mulheres tomaram as rédeas, e isso gera um enorme impacto nos homens”, afirma.